Moçambique: Comissão Justiça e Paz alerta para «tragédia» em Cabo Delgado

Moçambique: Comissão Justiça e Paz alerta para «tragédia» em Cabo Delgado

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo da Igreja Católica em Portugal, alertou hoje para a “tragédia” que se vive em Cabo Delgado, norte de Moçambique, denunciando o aumento de ataques terroristas na região.

“Chegaram-nos recentemente notícias de que a situação não melhorou (apenas se deixou de falar dela): intensificaram-se os ataques terroristas a várias aldeias, com destruição de casas, igrejas e mesquitas e o número (superior a um milhão) de pessoas forçadas a deixar as suas terras não para de aumentar”, refere uma nota da CNJP, enviada à Agência ECCLESIA.

O organismo católico sublinhou que, após o eclodir de guerras na Ucrânia e na Terra Santa, “deixou de se falar da tragédia que se vive na região de Cabo Delgado”.

“Sabemos como a atenção da opinião pública, e reflexamente a de muitos responsáveis políticos, vai variando por ondas sucessivas. As guerras e outras tragédias de grande dimensão vão-se sucedendo umas às outras, e assim também essa atenção”, indicam os responsáveis.

A Comissão Nacional Justiça e Paz quer alertar os responsáveis políticos e todos os cidadãos para a importância de não esquecer o drama que se vive na região de Cabo Delgado (como outros que se vivem noutras partes do mundo), de reforçar a ajuda humanitária e garantir a segurança das suas populações e de não desistir de trabalhar para um futuro de justiça e de paz nessa região”.

Seis anos e meio depois do início dos ataques terroristas em Cabo Delgado, a população sente-se abandonada, referiu o bispo de Pemba, numa entrevista à Renascença.

“O sentimento de abandono, aqui em Cabo Delgado, não é só pela comunidade internacional, mas também é um sentimento que a população sente em relação ao próprio país”, declarou D. António Juliasse.

A Cáritas local, por sua vez, sublinhou que se encontra “sem meios” para apoiar nova onda de deslocados, vítimas dos mais recentes ataques terroristas

“A Caritas está a passar por uma situação de crise financeira comparando com os anos passados em que, se calhar, ocupávamos o segundo lugar depois do PAM [Programa Mundial de Alimentação, das Nações Unidas] na área da assistência humanitária, e nós respondíamos a todas as áreas”, refere Betinha Ribeiro, gestora de projectos da Cáritas de Pemba, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

A província de Cabo Delgado enfrenta uma insurgência armada, que levou a uma resposta militar desde Julho de 2021.

Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o conflito já fez cerca de 4 mil mortes e um milhão de deslocados.

OC