Miller Gomes aposta na formação

MG1000Miller Gomes regressou ao cargo de seleccionador nacional de Sub-20. Que inovações traz agora?
Miller Gomes - Vamos trabalhar numa perspectiva de curto, médio e  longo prazos, a pensar no torneio COSAFA em que vamos participar em Dezembro no Botsuana, mas, também, nas futuras competições. Temos atletas de 16 e 17 anos, então temos que fazer tudo para, quando atingirem o escalão de Sub-20, estarem devidamente dotados nos aspectos técnicos e tácticos.

JD - Como está o nível da selecção de Sub-20?

MG - É uma selecção quase renovada, estamos a fazer uma preparação mais diferenciada. Chamamos jogadores novos e esperamos que possam dar maior contributo ao conjunto. Temos estado, também, a trabalhar no factor idade, na perspectiva de reduzirmos a margem da geração de 1993 a 94. É para permitir que os jogadores possam vir a estar dois ou três anos na selecção de Sub-20 e ela ter maior consistência.

JD - Para esse objectivo conta com o apoio da Federação e clubes?
MG - Pelo leque de jogadores e condições de trabalho que temos, precisamos de nos sacrificar muito para atingirmos os níveis desejados. É necessária uma só linguagem em relação ao futebol de formação. As preocupações vinham sendo mais nos ângulos competitivos do que na formação dos jogadores. 

JD - Tem apoio da Federação e dos clubes para ultrapassar os problemas?

MG - As dificuldades são conjunturais, há factores que contribuíram para as debilidades. São de ordem social e económica. Por isso, não podemos falar de formação se não nos apegarmos à questão da alimentação, saúde, educação e tantos outros que condicionam a formação no verdadeiro sentido da palavra. Quando estamos a falar de formação, não podemos falar só do jovem atleta, mas sim do homem, é aqui onde começa a ser formatada a sua identidade, a personalidade do jogador. Os técnicos têm a responsabilidade de ajudar o crescimento multifacetado dos jogadores de forma que venham a dar sustentação à prática do futebol.    

Sucesso das selecções

jovens passa sobretudo pelos clubes


JD- Podemos contar uma selecção de Sub-20 capaz de conquistar o título africano?

MG - O sucesso e a qualidade da selecção não devem depender apenas da Federação, pois, o sucesso do futebol jovem em Angola passa necessariamente pelos clubes. Passa, obrigatoriamente, pelas associações províncias de futebol. Se não houver campeonatos jovens e campos nas províncias, se não houver técnicos formados, se não houver todo este conjunto de factores interligados, naturalmente que a selecção nacional nunca chega ao topo. Precisamos, por isso, de condições estruturais. Um centro de treino especializado, um centro de estágio onde a selecção possa ficar e fazer os seus treinos.

JD - Vai ter tempo para acompanhar os talentos que existem nas províncias?

MG - Não queremos desprezar os talentos que certamente existem nas províncias, mas esta situação não é apenas da responsabilidade do técnico ou federação. Há, repito, factores que as estruturas competentes devem começar a preparar para no futuro relançar o nosso futebol a níveis altos. Costumo dizer que falta uma política desportiva nacional para que efectivamente possamos guindar o nosso futebol, sobretudo o jovem, a outros patamares. Temos de ter coragem de esquecer a exigência de resultados imediatos, ter a coragem de traçar projectos a médio e longo prazo.

JD - O trabalho de prospecção de novos valores está a ser feito?

MG- Há muito trabalho ainda por fazer. O caminho a percorrer ainda é longo. Estamos a fazer um trabalho de prospecção e de avaliação. Estamos ainda a reunir uma base de dados dos jogadores. Devo dizer que o trabalho está a ser feito e tem havido a devida correspondência da Federação cujo elenco recentemente tomou posse e encontrou outras preocupações que têm que ser resolvidas, como as de Selecção A que tem competições e um apuramento a discutir para estar no CAN de 2012.

"Departamento das

selecções está a cooperar"


JD - O apoio da Federação é suficiente?

MG - Pelas discussões que temos vindo a ter nas reuniões o departamento das selecções está a cooperar e, assim, estamos no caminho certo e, daqui a algum tempo, podemos dignificar o nome de Angola a nível de futebol jovem.

JD - Como vê o actual cenário dos escalões de formação?

MG - Já é mais positivo, porque hoje vemos determinadas acções de formação, há  interesse por parte dos treinadores. Ainda há dias, mais de 50 técnicos receberam uma formação que durou uma semana no complexo do Progresso do Sambizanga onde se discutiu e abordou a questão de futebol jovem. É disso que nós precisamos para melhorar o nosso futebol. Falarmos e discutirmos aquilo que nos apoquenta a nível do futebol jovem. Se não tivermos bons técnicos, seguramente não temos bons jogadores. Portanto, vamos esperar que o país com este crescimento que está a ter em todos os sentidos possa acompanhar o desporto, o futebol em particular

JD - O crescimento do futebol é compatível com a falta de campos de futebol?

MG - Sei que estão a ser construídas cidades satélites, mas sem espaços para a prática do desporto. Nos condomínios não existem espaços para a prática de futebol. Os campos dos bairros desapareceram, e lá a prática de futebol era massiva. Em certa medida, tudo isso veio retirar quantidade e qualidade ao futebol. Como sabemos, é da quantidade que nasce a qualidade.

"Vamos

atingir o topo"


JD - Vale a pena participar, em Dezembro deste ano, na Taça COSAFA, no Botswana?

MG - O torneio da COSAFA é muito importante,  se o compararmos a tantos outros. Estar presente é pensar no guindar a selecção a altos patamares, vitórias e títulos. Por isso, vamos à prova para atingir o topo, jogar de igual para igual com aquelas selecções que na nossa região estão no topo.

JD - Os jogadores que levou para Cabinda dão essa garantia?

MG - Estamos numa fase crucial da preparação. Até já reestruturamos o quadro da selecção, porque vínhamos a trabalhar com alguns jogadores acima da idade. De qualquer forma, estamos numa fase razoável como qualquer início de projecto que se apresenta. Vamos esperar para termos os resultados esperados.

JD - Com as condições actuais é possível atingir o topo?

MG - Temos jogadores aos quais falta o que se chama cultura de jogos, cultura táctica, aspectos inerentes à habilidade. Há, no entanto, os que também possuem boas qualidades psicomotoras. A esses já não ensinamos como se faz um drible. Vêm de casa com as ferramentas necessárias, o que lhes damos é um pouco mais organização. Quando tivermos as condições estruturais, isto é, mais campos, melhor condição de alimentação e de saúde, ai acredito que sim, vamos juntar o útil ao agradável para darmos um grande salto qualitativo.

Perfil


Nome:
João Cláudio Gomes "Miller Gomes"
Data de nascimento:
25.12.1970
Naturalidade:
Prenda Luanda
Nacionalidade:
angolana
Estado civil:
casado
Filhos:
quatro
Altura:
1,72 cm
Peso :
68 kg
Tabaco:
não faz uso 
Bebida:
água e sumos
Número de calçado:
41 
Princesa encantada:
esposa
Música:
semba
Prato preferido:
Funji de calulú
Cor preferida:
Vermelha
Religião:
Católica
Calor ou cacimbo:
cacimbo
Esplanada ou discoteca?
Tanto um como outro 
Boleia ou volante:
volante
Droga:
é contra
País:
Angola
Província:
Luanda

fonte: JD