Rússia e China vetam resolução da ONU contra a Síria

fysprDemais 13 membros do Conselho, incluindo Estados Unidos, França e Reino Unido, votaram a favor do texto.

A Rússia e a China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que manifestava apoio a um plano de paz da Liga Árabe e pedia a renúncia do presidente sírio, Bashar Al-Assad. A votação ocorreu horas depois de ativistas denunciarem um massacre que deixou mais de 200 mortos na cidade de Homs e foi condenado por países árabes e ocidentais.

Os outros 13 membros do Conselho votaram a favor do texto. Como integrantes permanentes do órgão, Rússia e China têm direito ao veto - que já tinham usado para impedir a aprovação de outra resolução contra a Síria em outubro.

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Os demais membros permanentes - Estados Unidos, França e Reino Unido - tentaram convencer principalmente a Rússia a aceitar a resolução. Negociações duraram toda a semana e continuaram até o último minuto, ganhando intensidade após a denúncia do massacre em Homs, possivelmente o episódio mais violento desde o início da revolta contra Assad, há 11 meses. "É um dia triste para o Conselho de Segurança, para o sírios e para a democracia", disse o embaixador francês na ONU, Gerard Araud.

Por meio do porta-voz Martin Nesirky, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou que o veto sino-russo à resolução "enfraquece o papel das Nações Unidas e da comunidade internacional neste momento em que as autoridades sírias deveriam escutar uma só voz, pedindo o fim imediato da violência contra o povo sírio".

Pouco antes da votação, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o ataque em Homs mostrou a "brutalidade impiedosa" de Assad e fez um apelo para que o Conselho de Segurança aprovasse a resolução. "Assad deve por fim agora a sua campanha de assassinatos e de crimes contra seu próprio povo. Deve dar um passo atrás e permitir que comece de imediato uma transição democrática", afirmou Obama, em comunicado.

Em Munique, onde líderes participam de uma conferência sobre segurança, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, teve uma discussão acalorada com o chanceler russo, Sergey Lavrov, tentando convencê-lo a apoiar a medida.

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O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, chamou o massacre em Homs de "crime contra a humanidade" e enviou um recado para a Rússia dizendo que "aqueles que bloqueiam a adoção da resolução da ONU estão assumindo uma responsabilidade grave e histórica".

Lavrov, porém, afirmou que a Rússia via dois problemas "cruciais" na resolução da ONU: poucas ressalvas à atuação de grupos armados de oposição e o potencial para prejudicar o diálogo nacional entre as forças políticas.

Reação

Mais tarde, o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal organização opositora ao governo de Bashar al-Assad, criticou o veto de Rússia e China, classificando-o como "uma autorização ao regime de Damasco para matar". Ahmad Ramadan, dirigente do CNS, disse que o veto representa "uma tentativa de deter qualquer processo político para dar uma solução à crise na Síria e deixa a porta aberta à linguagem da morte".

De acordo com ativistas, a brutal ação em Homs foi uma resposta aos avanços de desertores do Exército que tinham assumido o controle de vários bairros, como o de Khaldiyeh, alvo de ataques durante toda a noite.

"Estávamos dormindo quando morteiros começaram a atingir os prédios ao nosso redor", afirmou Mohammad, um morador que não quis informar seu sobrenome, à Associated Press. "Nada provocou o ataque, ninguém estava protestando. Estamos aterrorizados. É uma catástrofe".

Vídeos publicados por ativistas na internet mostraram cenas caóticas de feridos sendo atendidos em clínicas improvisadas dentro de mesquitas. As imagens, cuja veracidade não foi confirmada de forma independente, mostraram corpos nas ruas, casas em chamas e moradores correndo desesperados.

O governo da Síria negou qualquer ataque e disse que os corpos mostrados nos vídeos amadores são de pessoas sequestradas por "grupos terroristas armados". Os terroristas teriam filmado as vítimas para simular uma operação militar e dar prosseguimento à "histérica campanha" contra o governo.

A escalada de violência em Homs repercutiu em todo o mundo. A Tunísia, país que deu início às revoltas do mundo árabe, anunciou a expulsão do embaixador sírio em resposta ao "massacre sangrento" e disse que deixou de reconhecer a legitimidade do governo de Assad.

Furiosos, cidadãos sírios invadiram as embaixadas de seus país em Berlim, Londres, Atenas, Cairo e Kuwait em protesto contra Assad e contra o fracasso internacional em pôr fim à crise. Houve confronto com a polícia em todos os locais e, no Cairo, parte do prédio foi incendiado.

Grupos de direitos humanos afirmam que mais de 7 mil foram mortos pelas forças de segurança sírias desde o início da revolta, enquanto a ONU tem uma estimativa de 5,4 mil mortos.

Font:
AP, Reuters, AFP e EFE