Islamitas manifestam-se em meio à crise no Egipto

Islamitas manifestam-se em meio à crise no Egipto

Milhares de muçulmanos manifestaram neste sábado no Egipto em apoio a Mohamed Mursi, um dia após uma manifestação em massa da oposição contra o aumento dos poderes do presidente, um sinal da crescente divisão do país.

A oposição, por sua vez, pretendia continuar sua mobilização para denunciar a recente aprovação pela Comissão Constitucional de um projeto de Constituição acusado de violar a liberdade de religião e de expressão.

É a crise política mais grave enfrentada pelo país desde a eleição de Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, em junho deste ano. As divisões são cada vez mais profundas entre islâmicos e grupos laicos, liberais e cristãos.

O projeto de Constituição, que substituirá a lei fundamental suspensa após a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011, deverá ser entregue ao presidente que submeterá o texto a um referendo.

Milhares de manifestantes pró-Mursi, entre eles membros da Irmandade Muçulmana e de grupos salafistas, reuniram-se em frente à Universidade do Cairo, para onde a polícia foi enviada.

"Queremos que esta transição termine, queremos uma Constituição. Se alguns não gostam da Constituição, que opinem nas urnas", gritou um manifestante.

"O povo quer a aplicação da lei de Deus", gritavam outros, incluindo mulheres.

Uma árvore caiu sobre a multidão perto do pódio principal da universidade, matando um manifestante e ferindo outros 24.

As manifestações pró-Mursi também aconteceram em Alexandria e na província de Assiut (centro).

Os partidários do presidente acreditam que as decisões recentes permitirão o Egipto, que passa por uma difícil transição política, estabilizar e consolidar a sua democracia.

Rivais em cada lado do Nilo

Na outra margem do Nilo, centenas de manifestantes ainda estão acampados na Praça Tahrir, o epicentro da revolta de 2011, desde 23 de novembro, com o decreto de Mursi aumentando seus poderes.

A Frente de Salvação Nacional (FSN), uma coligação de partidos de oposição liderada por Mohamed ElBaradei, ex-chefe da agência nuclear da ONU, e Hamdeen Sabbadi, um ex-candidato presidencial, convocaram os egípcios a rejeitar o decreto e reivindicar o cancelamento do projeto de Constituição.

A coligação ressaltou em um comunicado o direito do povo a "usar todos os meios pacíficos de protesto, incluindo a greve geral e a desobediência civil".

Milhares de anti-Mursi manifestam desde sexta-feira na praça Tahrir, no Cairo, e em muitas outras cidades, particularmente em Alexandria, onde foram registrados confrontos entre os dois lados.

Depois de meses de impasse, o projeto de Constituição foi adotado entre quinta e sexta-feira pela Comissão Constituinte, que foi boicotado pela oposição liberal e laica, bem como cristãos, que denunciam o domínio islamista.

Como na antiga Constituição, o novo texto se baseia em "princípios da sharia", a "principal fonte da legislação", uma formulação bem aceita no Egipto.

Mas ele acrescenta uma nova disposição, segundo a qual os princípios da sharia devem ser interpretados de acordo com a doutrina sunita, o que alguns veem como uma oportunidade para reforçar a posição da lei islâmica, particularmente em suas interpretações mais rigorosas.

O projeto também dá ao Estado um papel de "proteção da moral" e proíbe "insultar pessoas humanas" e "profetas", disposições que poderiam abrir caminho para a censura.