ONU apela para "diálogo inclusivo" em Moçambique

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As Nações Unidas afirmaram hoje que estão a acompanhar com "preocupação" os recentes acontecimentos em Moçambique e apelaram a um "diálogo inclusivo" entre os principais dirigentes políticos do país visando ultrapassar o conflito político-militar.

Na segunda-feira, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique e a Renamo anunciaram a ocupação da base do principal partido da oposição moçambicana, em Sandjudjira, na serra de Gorongosa, onde o líder daquela força política, Afonso Dhlakama, residia há um ano.

Em nota enviada à Lusa, a ONU exortou o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a envolverem-se "totalmente num diálogo inclusivo para resolver as diferenças e garantir que o país possa continuar no caminho do desenvolvimento, democracia e crescimento para todos".

Desde o início do ano, o Governo e a Renamo discutem a paridade nos órgãos eleitorais, mas por falta de entendimento, o maior partido da oposição do país ameaça não participar e impedir a realização das eleições municipais de 20 de Novembro em 53 autarquias, para as quais não se inscreveu.

A actual legislação eleitoral, elaborada sem a participação da Renamo, foi aprovada este ano pelo Parlamento com votos favoráveis da Frelimo, que detém 191 deputados, e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com oito deputados, de um total de 250 parlamentares.

Por falta de entendimento no diálogo entre as delegações governamentais e da Renamo, o principal partido da oposição moçambicana exige a presença de observadores nacionais e internacionais, contudo, o executivo moçambicano discorda da proposta.

Em declarações hoje aos jornalistas, organizações da sociedade civil moçambicana defenderam a presença de observadores moçambicanos, mas acusaram as duas partes de "sonegarem" a informação sobre os temas em discussão.

O coordenador do Centro de Integridade Pública de Moçambique, Adriano Nuvunga, disse que o diálogo semanal que decorre em Maputo "não é transparente", até porque "para a sociedade civil nunca esteve muito claro o que se está a discutir".

"Não creio que passado mais de 20 anos de convivência democrática ainda seja necessário ir buscar observadores internacionais", disse Adriano Nuvunga, uma posição igualmente defendida pela presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota.

"A problemática de observadores nacionais e internacionais, pessoalmente, não me parece que os internacionais sejam tão relevante", afirmou Alice Mabota.

Moçambique vive a sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992, após o exército moçambicano ter desalojado na segunda-feira o líder da Renamo.

Afonso Dhlakama e o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, fugiram para local incerto, enquanto as forças de defesa e segurança moçambicanas mantém a ocupação da residência do líder do movimento, em Sandjunjira, na província de Sofala, e o partido denunciou o acordo de paz assinado em 1992 com a Frelimo. Entretanto, homens armados da Renamo ocuparam terça-feira e assumiram o controlo da vila de Maríngué, na Gorongosa, constatou a Lusa no local.