
O bispo cabo-verdiano de Mindelo destacou hoje a “esperança no rosto das pessoas” e o “festival da humanidade, da solidariedade” com a população da ilha de São Vicente, após a tempestade que causou perdas humanas e materiais, e inundações.
“Uma nota muito positiva: nas minhas visitas, não encontrei pessoas angustiadas, tristes, com a dor, porque perderam os seus haveres, alguns perderam as suas casas; a esperança é uma coisa que está espelhada no rosto das pessoas”, disse D. Ildo Fortes, esta terça-feira, dia 19 de agosto, em declarações à Agência ECCLESIA.
Segundo o bispo da Diocese de Mindelo, em Cabo Verde, “não há memória de tanta pluviosidade, de tanta chuva, em pouco tempo”, e explicou que o cabo-verdiano, por natureza, teve “sempre uma vida dura”, numa terra onde, “naturalmente, não chove”, e, agora, “choveu demais”, mas é um povo que “luta, vai à guerra, faz de tudo para sobreviver”, e isso tem-se notado nestes dias.
Uma tempestade atingiu a ilha cabo-verdiana de São Vicente com maior intensidade, mas também outras ilhas deste país lusófono, como Santo Antão e São Nicolau, há cerca de uma semana, na noite de 11 de agosto, tendo provado vítimas mortais, inundações, danos materiais em estradas, ruas, habitações e outras infraestruturas.
Nós temos uma livraria diocesana, que, infelizmente, a água levou tudo. É uma casa de cópias e todas as máquinas ficaram debaixo da água, os computadores, mas. Depois de dois ou três dias intensos a tirar a água e lama, já estamos com as portas abertas, assim, também outros estabelecimentos”.
D. Ildo Fortes adiantou que não conseguiu ainda “ir a todas as zonas” afetadas pela tempestade em São Vicente, mas a Cáritas Diocesana tem “pessoal no terreno”, e “funciona como rede” e está “em todos os bairros”, tendo feito “um inventário bastante vasto” das necessidades, para além de terem o apoio de profissionais da Cáritas de Santo Antão, “a ilha vizinha”.
O bispo diocesano que é também o presidente da Cáritas Cabo-verdiana explica que estão “a trabalhar em rede com as outras estruturas humanitárias”, e com a Profissão Civil e a câmara municipal.
“Neste momento, a primeira ajuda, que é de emergência, é levar um prato para as pessoas, levar roupa, dar apoio espiritual também, que é um grande valor que a Igreja tem”, afirma D. Ildo Fortes, adiantando que identificaram 300 famílias que estão a passar por dificuldades.
As três paróquias da Ilha de São Vicente são pontos de recolha de alimentos, vestuário, e de confeção de alimentos, enquanto as escolas, que “são um bocadinho maiores, têm ginásios, os balneários, tem espaços livres”, acolhem as pessoas desalojadas.
D. Ildo Fortes usou a linguagem do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que se realiza em São Vicente, tendo sido cancelada a edição 2025, para afirmar que estão “a assistir a um festival da humanidade, um festival da solidariedade, que é tão bonito”.
“Andamos distraídos, agarrados ao não essencial. Eu penso que esta tempestade acaba por servir como um abanão. Há outras coisas que precisamos estar atentos, são as vidas humanas, é a segurança das pessoas, a solidariedade, é a nossa comunidade”, observou.
Nós temos certeza de que as cinzas se renascem. Após Sexta-feira Santa vai haver luz da ressurreição, e todos estamos muito esperançosos que vamos vencer esta guerra e vamos ter um Mindelo belo, uma terra bonita, e as pessoas vão poder viver uma vida social, retomar a vida cultural, que faz parte desta cidade.”