Governo colombiano submeterá acordos com as Farc a aprovação popular

Governo colombiano submeterá acordos com as Farc a aprovação popular

O governo do presidente Juan Manuel Santos submeterá à aprovação dos colombianos os acordos que alcançar com a guerrilha comunista das Farc nas negociações de paz em Cuba, anunciou o chefe da delegação oficial neste domingo.

"Nosso trabalho em Havana será submetido a um processo de referendamento por parte do corpo cidadão", escreveu o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, em um texto divulgado no jornal El Tiempo de Bogotá.

O chefe dos negociadores enviados por Santos a Havana afirmou que "é a cidadania a quem resolve, não os delegados do governo", no texto intitulado "Buscar a paz: imperativo moral".

Em seguida, acrescentou: "Haverá algo mais distante desta ideia sinistra de negociar de costas para o país?", em alusão direta a críticas de alguns setores às negociações.

De la Calle, no entanto, assegurou que entendia que muitos colombianos acreditam que não se deve dialogar com as Farc. "É uma posição legítima", disse.

Mas rejeitou que, não estando de acordo com estas negociações - iniciadas em 19 de novembro de 2012 -, se "recorra à propaganda negativa, ao truque de atribuir ao governo e sua delegação em Cuba intenções que não têm".

O presidente Santos acusou na sexta-feira seu antecessor e padrinho político, Álvaro Uribe (2002-2010), de fazer propaganda negativa contra o processo de paz.

Santos foi ministro da Defesa no governo Uribe e neste cargo pôs em marcha a política do presidente de enfrentar com firmeza as Farc, às quais desferiu duros golpes militares.

O chefe de negociações do governo também assegurou no texto que os acordos que forem costurados com a guerrilha não vão "transbordar os elementos centrais da dignidade humana e os fundamentos do Estado democrático de direito".

De la Calle também pediu aos colombianos que apoiem as negociações manifestando-se na próxima terça-feira em uma marcha convocada por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, da busca da paz pela via negociada e pelo esquerdista movimento político Marcha Patriótica.

O ex-presidente Uribe, através de sua conta no Twitter, pediu o boicote na "marcha pela impunidade", como a denomina.

Em Havana, as Farc informaram neste domingo que darão "seu apoio moral" à marcha pela paz e pediram aos colombianos que façam "tremer" as ruas do país para forçar o governo a "fazer reformas".

"Gente proveniente de todos os setores políticos tomaram esta bandeira (da paz) e estarão nesta marcha todos os setores sociais possíveis. Nós, de Havana, a impulsionaremos com nosso apoio moral", disse o comandante da guerrilha comunista Ricardo Téllez, em entrevista publicada no jornal Juventud Rebelde.

Esta marcha "deve ser uma manifestação que faça tremer a Colômbia para que o Estado saiba que precisa fazer reformas", acrescentou o líder guerrilheiro.

Com oito mil combatentes, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) têm 48 anos de luta armada contra o Estado colombiano e são a guerrilha mais antiga da América Latina.

As negociações de paz em Havana estão centradas no primeiro ponto de uma agenda de cinco, que é o polêmico tema agrário, que deu origem ao conflito.

Santos expressou a confiança de que em novembro próximo um acordo final seja costurado com as Farc, mas esta guerrilha recusa-se a por um prazo para as negociações.

As partes suspenderam as conversações em 21 de março e voltarão a se reunir a partir da terceira semana de abril.

AFP