Martin é mais do que uma vítima, é também um símbolo

Martin é mais do que uma vítima, é também um símbolo

Um rapaz sorridente e nas mãos um cartaz colorido onde se pode ler “Não magoar mais as pessoas. Paz”. Esta é a descrição de uma fotografia que nas últimas horas tem sido replicada nas redes sociais e nas páginas em memória de Martin Richard, o menino de oito anos que morreu no ataque de Boston na segunda-feira. Se Martin era já um símbolo por representar o dia de terror que marcou os Estados Unidos, o apelo à paz que o menino de Dorchester fez num dia de escola veio reforçá-lo.

Martin foi uma das três vítimas mortais do ataque na maratona de Boston. As primeiras informações sobre o que aconteceu ao menino de oito anos indicavam que este morreu junto à meta da maratona depois de abraçar o pai, que tinha feito a prova. A família de Martin veio entretanto rectificar a história trágica da criança e explicar que o seu pai, Bill Richard, estava a assistir à maratona com o filho, a mulher e a filha. Ambas sofreram ferimentos graves. Bill ficou com estilhaços de um dos dois engenhos que explodiram. Martin não sobreviveu.

“O meu querido filho Martin morreu dos ferimentos sofridos no ataque em Boston. A minha mulher e a minha filha estão a recuperar de ferimentos graves. Agradecemos à nossa família e amigos, aos que conhecemos e aos que nunca vimos, pelas milhares de orações. Peço-vos que continuem a rezar pela minha família enquanto recordamos Martin”. Estas foram as primeiras palavras públicas de Bill em memória do filho, feitas nesta quarta-feira, e de agradecimento pelas iniciativas em homenagem a Martin na localidade onde moram e junto ao local da explosão que lhe tirou a vida.

Um amigo da família Richards, citado pelo Boston Globe, conta que Martin e a família assistiam à maratona a alguns quarteirões da meta da prova, onde participavam alguns amigos. Decidiram comer um gelado e escolher outro local para continuar a ver a prova. Dirigiram-se para a linha final da maratona para assistir às celebrações dos que cortavam finalmente a meta. Quinze minutos depois deu-se uma explosão no passeio atrás da família.

Junto à casa de Martin e na Neighborhood House Charter School, que frequentava, velas e flores vão ganhando espaço. “Se alguém era posto de lado ele aparecia e dizia ‘Queres juntar-te a nós?”, lembra Colin Baker, de 9 anos. Emira Myers, 10 anos, que anda na mesma escola de Martin, confessou ao Boston Globe que sente "medo". “Nunca sabemos onde estão”, disse. E ajudada pela mãe acrescentou: “onde estão as pessoas más”.

Os elogios à família Richards são ouvidos um pouco por toda Dorchester. "São uma família maravilhosa e esta é uma tragédia horrenda", admite Jane Sherman, uma vizinha, citada pela Reuters. "Isto só prova o quanto estamos pouco protegidos", sublinhou.

Dois dias depois do ataque em Boston são poucas as pistas sobre o autor ou autores do atentado. Começam a desvendar-se alguns pormenores sobre os materiais utilizados na construção dos engenhos explosivos. A polícia confirma que as bombas eram artesanais e que era feitas a partir de panelas de pressão com rolamentos e pregos no interior. Estes materiais podem explicar a violência dos ferimentos provocados nas mais de 170 vítimas que resultaram do ataque.

A polícia federal norte-americana garante apenas que as investigações deixaram de ser apenas internas e passaram a ser a uma "escala mundial". O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assegura que os responsáveis pelos actos terroristas em Boston vão ser encontrados e punidos. “Saibam isto: os cidadãos americanos recusam ser aterrorizados”, declarou na terça-feira.