Crise na BBC provoca renúncia de outros dois diretores

Crise na BBC provoca renúncia de outros dois diretores

A BBC anunciou nesta segunda-feira a renúncia de outros dois diretores, dois dias após a demissão de seu diretor-geral, George Entwistle, motivada pelo duplo escândalo vinculado à pedofilia, e advertiu que mais cabeças podem rolar entre as autoridades da rede pública.

A diretora de informação da rede britânica de rádio e televisão, Helen Boaden, e seu adjunto, Stephen Mitchell, renunciaram temporariamente aos seus postos em meio à crise provocada pelo tratamento da informação relacionada ao seu ex-apresentador Jimmy Savile, acusado de múltiplos abusos sexuais, e pela "denúncia caluniosa" em relação a um ex-dirigente conservador.

O anúncio é feito pouco antes da rede de televisão revelar as conclusões de uma investigação sobre a divulgação de uma reportagem no programa de atualidades Newsnight que envolveu erroneamente o veterano político Lord McAlpine, tesoureiro do Partido Conservador na época de Margaret Thatcher, em um caso de abusos sexuais.

Helen Boaden e Stephen Mitchell, que, segundo a rede de televisão, "não tiveram nada a ver com a investigação frustrada do Newsnight", abandonam seus cargos à espera das conclusões de outra investigação sobre as razões que levaram a BCC a desprogramar no fim de 2011 outra reportagem do Newsnight que dava a palavra às vítimas de Jimmy Saville, falecido em outubro deste ano anos 84 anos.

"Helen Boaden decidiu que não está em posição de assumir sua responsabilidade até que tenha concluído a investigação Pollard", disse a BBC em um comunicado, em referência à investigação dirigida pelo ex-diretor da rede rival Sky News, Nick Pollard, que examina se existiu algum tipo de acobertamento no cancelamento da reportagem sobre Saville.

A BBC informou posteriormente que espera que ambos retomem suas posições quando esta investigação terminar, embora, até o momento, Boaden tenha sido substituída no cargo por Fran Unsworth, enquanto Ceri Thomas ocupa interinamente o cargo de vice-diretor de informação.

A rede de televisão pública adverte, no entanto, que mais cabeças podem rolar, dois dias após a renúncia, no sábado, de seu diretor-geral, George Entwistle, de 50 anos, que estava há menos de dois meses no cargo.

"Está sendo estudado atualmente em que medida se deve pedir a algumas pessoas que informem sobre suas ações, e, se for apropriado, serão tomadas ações disciplinares", acrescentou em um comunicado.

O presidente da Fundação da BBC, Chris Patten, que pediu uma "revisão estrutural radical", também enfrenta pedidos de renúncia, especialmente depois do vazamento da informação de que o diretor-geral da rede receberá 450.000 libras (715 mil dólares) de indenização pelos 54 dias em que esteve no posto.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerou nesta segunda-feira que esta quantidade era "difícil de justificar", mas expressou seu apoio a Lord Patten.

"O importante é que Chris Patten guie a BBC até a saída de suas atuais dificuldades e esta deve ser a prioridade", declarou à imprensa o porta-voz do primeiro-ministro.

Revelado no início de outubro por uma investigação da rede privada ITV, o escândalo Jimmy Savile, sobre um popular ex-apresentador da BBC acusado de ter agredido sexualmente até 300 menores de idade por quatro décadas, alguns nas instalações da BBC, colocou a rede de televisão pública no olho do furacão.

A crise se agravou quando o Newsnight, um dos programas mais conhecidos da rede de televisão, reconheceu na sexta-feira ter divulgado uma investigação na qual acusava injustamente Lord McAlpine.