Negócios por fechar com Venezuela valem mais de dois mil milhões de euros

Negócios por fechar com Venezuela valem mais de dois mil milhões de euros

Formalização de contratos que estavam em pipeline vai sofrer atrasos, mas Governo espera que acabe por avançar rapidamente.

O secretário de Estado adjunto da Economia, António Almeida Henriques, está optimista em relação à solidez das relações comerciais entre Portugal e a Venezuela e foi essa confiança que transmitiu aos empresários portugueses que o contactaram na quarta-feira. Em declarações ao PÚBLICO, Almeida Henriques confirmou ter recebido vários telefonemas de empresários, preocupados com o cenário pós-morte do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

O governante esclareceu que os telefonemas partiram essencialmente de empresas que estão na expectativa de fechar negócios, processo que deveria conhecer desenvolvimentos importantes ainda este mês. Em causa estão entre 60 e 70 empresas, cujos negócios, em vários sectores, ascendem a mais de dois mil milhões de euros.

Almeida Henriques admitiu que os encontros da Comissão Mista de Acompanhamento do Acordo Bilateral Portugal-Venezuela, a que preside do lado português, marcados para os próximos dias 15 e 16 em Caracas, e 1 e 2 de Abril em Lisboa, serão "naturalmente" adiados, e os trabalhos serão retomados depois da realização das eleições.

Apesar deste compasso de espera, e de reconhecer que "Hugo Chávez foi, de facto, um amigo de Portugal", Almeida Henriques defendeu que "hoje entre os dois países há uma relação Estado a Estado". Por isso não vê razão para que os projectos ou investimentos em pipeline, na área da saúde, da energia, gás e telecomunicações e construção de casas não se venham a concretizar no curto prazo.

Em cima da mesa está ainda o reforço da venda de crude venezuelano à Galp, no âmbito do fundo que permite o pagamento de petróleo por determinadas importações, como medicamentos, e ainda vários projectos de capital misto nas áreas industrial e agrícola. "A relação comercial entre os dois países está consolidada", defendeu Almeida Henriques, lembrando que Portugal passou de 46.ª posição em 2008 para o 11.º fornecedor da Venezuela em 2012.

A mostrar a solidez das relações o governante destacou ainda o crescimento significativo das exportações, que aceleraram em 2012, ultrapassando os 313 milhões de euros em 2012, tornando a Venezuela o 15.º principal cliente de Portugal, representando 1,05% das exportações portugueses.

A balança comercial entre Portugal e este país da América Latina é positiva em 148,6 milhões de euros, quando há cinco anos era negativa em 88 milhões de euros. Neste momento, as exportações são lideradas por máquinas e aparelhos, construções em ferro fundido e em aço, equipamentos refrigeradores e congeladores, medicamentos, produtos alimentares e mobiliário.

O caso dos estaleiros

Almeida Henriques defendeu ainda que a relação entre os dois países é muito mais profunda do que os resultados da balança de transacções. O governante destacou a presença directa de várias empresas na Venezuela e a prestação de serviços, a que junta a boa imagem que as empresas nacionais têm no país sul-americano. Essa imagem, juntamente com a boas relações da comunidade no país, são factores que ajudam a consolidar as relações entre os dois países.

As relações entre Portugal e a Venezuela foram lançadas no Governo de José Sócrates, a partir 2009, e a venda dos computadores Magalhães, pela empresa portuguesa JP Sá Couto e a construção de casas pelo grupo Lena, foram os projectos mais emblemáticos. Hoje, a empresa JP Sá Couto tem uma fábrica na Venezuela.

Em declarações à Lusa, o presidente do grupo Lena, que tem em carteira a construção de 50 mil casas sociais, disse esperar que "não haja grandes mudanças no país".

Entre os dois países foram concretizados outros projectos relevantes, como o contrato para a refinação de crude venezuelano nas instalações nacionais da Galp.

A visita de Chávez a Portugal, em 2010, ficou marcada pela encomenda de dois navios aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). O coordenador da comissão de trabalhadores dos ENVC, António Costa, reconheceu, na quarta-feira, em declarações ao PÚBLICO, que a notícia da morte de Hugo Chávez foi acolhida na empresa com "muita tristeza" e alguma apreensão. O porta-voz admitiu alguma "preocupação" relativamente ao futuro do contrato para a construção dos dois asfalteiros, no valor de 128 milhões de euros.

Para já, a morte do líder venezuelano – de quem se disse tudo, desde "solidário, narcisista e crente" a déspota – levou ao cancelamento de uma reunião, marcada para esta quinta-feira, entre o embaixador da Venezuela em Lisboa e os representantes dos trabalhadores. A audiência com Lucas Rincón Romero foi marcada há três semanas, a pedido da Comissão de Trabalhadores, para discutir este contrato que tinha sido formalizado pelo próprio Chávez, durante a visita à empresa de Viana do Castelo. "Sabíamos que estava doente, mas tínhamos esperança que viesse a recuperar e que pudesse voltar a Viana, quando concluíssemos a construção do primeiro navio", adiantou António Costa.

O arranque da construção dos navios para a empresa Petróleos da Venezuela continua num impasse. Por um lado, devido às dificuldades financeiras dos ENVC para adquirir material e, por outro, por causa do processo de reprivatização da empresa que está suspenso desde Dezembro face às dúvidas levantadas por Bruxelas. Em causa estão os apoios concedidos aos ENVC, pelo Estado português, entre 2006 e 2010, no valor de 180 milhões de euros.

Público