Papa fala em «crise de fé»

PAPppbxvid220809Bento XVI aponta pobrezas do mundo ocidental marcado pelo relativismo e o individualismo
Bento XVI disse hoje na Alemanha que a "verdadeira crise da Igreja" Católica no mundo ocidental é uma "crise de fé", apontando o dedo às consequências do relativismo e o individualismo.
"Se não chegarmos a uma verdadeira renovação da fé, qualquer reforma estrutural permanecerá ineficaz", afirmou, num encontro com os membros do Conselho do Comité Central dos Católicos Alemães (ZDK), em Friburgo, região ocidental do país.
O Papa admitiu que a Igreja da sua terra natal "está opticamente organizada", mas criticou "um excedente das estruturas em relação ao Espírito".
"Por detrás das estruturas, existe porventura também a correlativa força espiritual, a força da fé num Deus vivo?", perguntou.
Em Berlim, na quinta-feira, Bento XVI tinha convidado os católicos alemães a manifestarem a sua pertença à Igreja e deixou críticas aos que manifestam "insatisfação e descontentamento, se não virem realizadas as próprias ideias superficiais e erróneas" sobre a mesma.
O discurso papal retomou um tema habitual nas viagens pontifícias, a questão do "relativismo subliminar que penetra todos os âmbitos da vida".
"Às vezes, este relativismo torna-se combativo, lançando-se contra pessoas que afirmam saber onde se encontra a verdade ou o sentido da vida", assinalou Bento XVI.
Para o Papa alemão, "este relativismo exerce uma influência cada vez maior sobre as relações humanas e a sociedade".
"Isto exprime-se também na inconstância e descontinuidade de vida de muitas pessoas e num individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem capazes de renunciar de modo algum a determinada coisa ou de fazer um sacrifício pelos outros", lamentou.
Segundo Bento XVI, "também o compromisso altruísta pelo bem comum nos campos sociais e culturais ou pelos necessitados está a diminuir", faltando também a "coragem de prometer ser fiel a vida toda" no casamento.
Num olhar sobre a Alemanha e o Ocidente, onde se podem encontrar "bem-estar, a ordem e a eficiência", o Papa frisou a existência de "pobreza nas relações humanas e pobreza no âmbito religioso".
"No nosso mundo rico ocidental, há carências. Muitas pessoas carecem da experiência da bondade de Deus. Não encontram qualquer ponto de contacto com as Igrejas institucionais e as suas estruturas tradicionais", observou.
Bento XVI convidou os católicos germânicos a criarem "lugares" onde estas pessoas "possam expor a sua nostalgia interior".
"As pequenas comunidades poderiam ser um destes caminhos, onde sobrevivem as amizades, que são aprofundadas na frequente adoração comunitária de Deus. Aqui há pessoas que contam as suas pequenas experiências de fé no emprego e no âmbito da família e dos conhecidos, testemunhando assim uma nova proximidade da Igreja à sociedade", sugeriu.
A terceira viagem de Bento XVI à Alemanha, 21ª ao estrangeiro (16ª na Europa), iniciou-se quinta-feira, com passagens por Berlim, Erfurt e Friburgo, prolongando-se até domingo sob o lema 'Onde há Deus, há futuro'.