A Igreja ao serviço da vida - Mensagem Pastoral da CEAST

A Igreja ao serviço da vida - Mensagem Pastoral da CEAST

A Igreja ao serviço da vida - Mensagem Pastoral da CEAST

«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância»

(Jo, 10, 10).

Mensagem Pastoral dos Bispos Católicos

de

 Angola e S. Tomé e Príncipe

1. Nós, Bispos Católicos de Angola e S. Tomé e Príncipe, reunidos na Primeira Assembleia Geral Ordinária anual, que decorreu de 25 de Fevereiro a 02 de Março de 2013, na cidade do Kwito-Bié, centro geodésico da nossa querida Pátria, para preparar o Triénio Pastoral, saudamos afectuosamente os nossos diocesanos, bem como a todas as nossas irmãs e a todos os nossos  irmãos em Cristo, origem da nova humanidade.

2. Glorificamos a Deus pelo dom da Paz que se vive no País e pelo reforço perseverante do processo de reconciliação da família angolana, bem como pelos sinais evidentes de progresso sócio-económico, que se está registando nos últimos anos.

A nossa gratidão para com o Senhor é tanto maior, quanto é certo que esta  grande Província, que ontem conheceu tempos particularmente difíceis no contexto de uma guerra fratricida, dilacerando corações e abrindo feridas profundas e dolorosas em todo o País e que, felizmente, se vão curando, vive hoje um momento de franca recuperação e desenvolvimento a vários títulos.

Na diversidade de responsabilidades de todos e cada um que nela vivem, o Bié está de parabéns.

3.Nunca é demais insistir: o perdão mútuo e a reconciliação fraterna não é somente condição de paz duradoura, ela é, por igual, sabedoria da vida e exigência de sobrevivência, como uma única família pátria, com segurança verdadeira para todos, contra o veneno da intriga, veiculada de dentro ou de fora. A árvore da paz e reconciliação nasce da verdade animada pela justiça, alimentada pelo amor fraterno e robustecida pela verdadeira solidariedade. Temos de avançar todos juntos, sem desfalecer, longe de exclusões ou marginalizações, qualquer que seja a sua índole, porque paralisam o são desenvolvimento da sociedade angolana.

Evite-se, pois, a tentação de identificar a Nação e o Estado com pertenças partidárias. O projecto Angola diz respeito a todos os seus filhos, e todos devem sentir-se parte dele, corresponsáveis, valorizados e cidadãos.  É assim que o edifício da paz será cada vez mais firme. Recordando o grito profético do Beato João Paulo II, por ocasião da sua visita à nossa Terra, nós repetimos com ele: nunca mais a guerra neste solo pátrio!

Em tudo isto nos guia Cristo, luz das nações e aliança de todos os povos. A Ele, verdadeiro Deus feito homem e morto na Cruz pela redenção de todos, as Escrituras proclamam como Príncipe da Paz. O Seu poder infinito não se revela na vingança, mas no perdão do pecador, sem o humilhá-lo, indo até ao ponto de o chamar irmão, irmã.

4. Um elemento essencial, como parte dos direitos fundamentais da pessoa humana, é a posse do Bilhete de Identidade que, infelizmente, nem todos os angolanos possuem. Apelamos aos Órgãos do Estado e do Governo, para que atribuam o referido documento aos angolanos que ainda o não têm, evitando todo o tipo de especulação e excesso de burocracia, que envolve o processo da sua obtenção.

Outrossim, exortamos a população que faça o esforço para obter os seus documentos. A pertença efectiva à grande família angolana dos concidadãos documentalmente ainda excluídos, constitui o nosso sonho e o nosso propósito.

5. Preocupam-nos ainda outros direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito a vida. A guerra, não é apenas a das armas, senão também a imposição de projectos contra a vida, contra os valores espirituais e morais e contra a estabilidade social, que se reflecte em programas pro-abortivos.

Verificamos, consternados, que o aborto é uma pratica difundida, tanto em centros sanitários como nos bairros das cidades até das aldeias, convertendo esses espaços em lugares de comércio da morte. Projectos deste género contrariam o curso natural da vida e se opõem frontalmente à vontade do Criador, pondo em causa a segurança e a sobrevivência dos Angolanos.

6. Pedimos atenção às campanhas de esterilização, conscientes ou inconscientes promovidas por organismos externos, com vontade manifesta de, a todo o custo, se imporem aos povos e aos seus governos, sob o pretexto de ajuda ao desenvolvimento. Esta é, com certeza, a pior guerra que, até então, a humanidade jamais conheceu, por ser silenciosa e intencionalmente orquestrada a nível planetário, sob a ironia de novos direitos humanos, positivistas e radicalmente opostos aos Direitos Universais do homem, fundados em Deus, seu Criador e fonte do verdadeiro Direito, o qual não se confunde com o mero consenso, ditado por lobbies anónimos.

A ajuda ao verdadeiro desenvolvimento baseia-se, antes de tudo, na promoção da vida e da população, nunca no seu contrário que, no final de contas, significaria  civilização do mais forte contra a existência de seres indefesos.

7. O desenvolvimento dos povos assenta na justiça distributiva e no serviço responsável  à coisa publica,   evitando o suborno e outros géneros de corrupção na gestão dos bens públicos, e investindo com seriedade numa educação sólida de todos os filhos e filhas de uma pátria.

Assusta-nos o emergir da cultura generalizada da corrupção que se estendeu a todas as camadas da nossa sociedade, até mesmo dentro da nossa Igreja. A corrupção é um mal a combater na nossa sociedade porque, a  tornar-se  endémica, cairemos numa sociedade  onde a injustiça se tornará uma realidade permanente. Neste particular, o Parlamento é chamado a desempenhar o seu insubstituível papel fiscalizador da actuação do Governo para o bem de todos os angolanos.

8. Também nos preocupa o alastramento, pelo território nacional, da pornografia e de outros desmandos morais veiculados por este ou aquele canal televisivo e outros meios de difusão. Pelo seu carácter repugnante e ultrajante, consubstanciado em danças obscenas e outras manifestações degradantes, alheias à cultura nacional, apresentados por alguns canais públicos subsidiados com recursos financeiros dos angolanos, atentam à moral e ao pudor, degradam os jovens, ofendem a dignidade da mulher e constituem vergonha para a nossa sociedade.

Jamais devemos esquecer que a decadência dos povos e das nações sempre começou pela degradação dos valores morais e espirituais.

9. A nossa atenção vira-se particularmente para os nossos jovens: queridos jovens, vós sois a esperança da Pátria e do nosso povo. Em nome de Cristo, vos imploramos: não caiais no suicídio multiforme através da imoralidade e da escravatura da droga. O consumo desmedido das bebidas alcoólicas, assustadoramente postas ao alcance de todos, e até dos menores, constitui sério obstáculo à  dignificação do angolano, ao seu desenvolvimento  e à paz.  O abuso  do álcool é uma peste que se vai transmitindo de pais aos filhos, e destes aos netos, através das gerações.

O caso é muito serio e deve merecer a atenção de todos, de modo particular das autoridades governativas, que devem limitar a publicidade das bebidas alcoólicas, controlar a qualidade das mesmas, zelar pelo cumprimento da proibição da venda a menores, proibir a comercialização na proximidade dos centros educativos, controlar a importação etc. Sente-se também a necessidade de uma regulamentação da comercialização de bebidas alcoólicas.

Fique aqui registado o nosso grito de alerta: não imitemos figurinos de fora, que se apresentam sob a fantasia da novidade, da abundância e da liberdade.

Além de outros problemas, a delinquência generalizada, particularmente a delinquência infantil, urbana e intrafamiliar, impede o espírito de iniciativa, entrava a criatividade e multiplica o desemprego.

10. Queridos diocesanos,  Cristo nos diz:  «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia» ( Jo 10,10).

Não se trata de uma vida efémera, mas daquela que é oferecida por Deus. Começando no tempo, ela continuará na eterna companhia de Deus, que é Amor.

Falando ao Pai, Jesus esclarece em que consiste  essa vida em abundância: “Que Te conheçam a Ti como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo  a quem tu enviaste” (Jo 17, 3).

11. Assistimos hoje, no nosso país, a uma grande  proliferação de seitas. Muitas delas se proclamam autoras de milagres, abusando da boa fé e da religiosidade popular das nossas gentes, a fim de propagarem falsas doutrinas e, tantas vezes, promotoras de intrigas e de divisões. Já há famílias que não podem comer juntas, porque alguns dos seus membros são considerados infiéis, embora a natureza e a história os tenham ligado por laços indeléveis.   E se isto continuar, seremos levados a perguntar: Quo vadis, mater Angola – para onde vais, Mãe Angola?

Outras até, são religiões de cariz inimigo, programaticamente adversas à  Cruz de Cristo, Único Redentor do mundo; utilizando recursos financeiros, elas procuram impor  alguns dos seus contravalores em relação à nossa tradição e à nossa identidade cristãs.  Estejamos atentos!

12. Amados  Cristãos, homens e mulheres de boa vontade. Vivemos o tempo da graça, o Ano da Fé, solenemente proclamado pelo Papa Bento XVI, profeta da Verdade na Caridade. Esta Fé animada pela caridade é o resumo da Lei e dos Profetas, é a identidade do nosso viver cristão. É a mesma  fé-caridade cantada na carta aos Hebreus, que “é garantia das coisas que se esperam e a certeza daquelas que não se veem”(Heb 11. 1). Trata-se da Fé em Jesus Cristo, dom do Pai aos homens autor e consumador da nossa fé (Cfr. Heb 12, 2ab).

13. Animados e exortados pelo Evangelista S. João, não tenhamos medo nem sejamos pusilânimes., pois a fé vence o mundo; e «só vence o mundo pela fé aquele que acredita em Cristo Jesus, Filho de Deus vivo» (1Jo, 5,5).

Como no dia de Pentecostes, o Espírito Santo nos alenta e afasta de nós todo o temor em professarmos a nossa fé diante dos homens e dá-nos novo impulso, para que possamos ser testemunhas de Cristo, na vida pessoal e familiar, aqui e agora, todos  os dias da nossa vida.

Que Maria, Mãe da Fé, nos acompanhe na nossa peregrinação para a celebração da Páscoa do seu Filho.

Kuito-Bié, 02 de Março de 2013

Os Bispos Católicos de Angola e São Tomé e Príncipe.