Papa evoca crise dos refugiados e denuncia «conflitos absurdos e impiedosos»

Papa evoca crise dos refugiados e denuncia «conflitos absurdos e impiedosos»

O Papa evocou esta Segunda-feira, no Líbano, a crise de refugiados e a “explosão da violência”, pedindo respostas da Igreja e da sociedade.

“Que mais ninguém tenha de fugir do seu país por causa de conflitos absurdos e impiedosos”, referiu Leão XIV, falando em francês, durante uma visita ao Santuário de Nossa Senhora do Líbano, em Harissa.

No encontro com representantes da comunidade católica, a intervenção respondeu a um testemunho de Loren Capobres, agente pastoral filipina, que partilhou a história de James e Lela, casal sudanês que fugiu da guerra com um recém-nascido.

“Imaginem uma mãe que acabara de dar à luz, caminhando por três dias, carregando o seu recém-nascido com o marido e o filho de três anos. Na coragem deles, vi a luz de Deus brilhando mesmo nos momentos mais sombrios”, relatou Loren.

O Papa saudou este trabalho da comunidade católica desejou que, quem bate à porta, seja recebido com um “bem-vindo a casa”.

A irmã Dima Chebib, diretora de uma escola em Baalbeck, contou como decidiu permanecer na cidade de maioria muçulmana mesmo durante os bombardeamentos de outubro de 2024, acolhendo refugiados no convento.

«Por que procurar salvar a minha vida, quando já a dei?”, questionou.

“Partilhamos o pão, o medo e a esperança”, afirmou a religiosa, relatando momentos de grande tensão com milícias armadas.

Leão XIV citou esta intervenção e elogiou a “extraordinária eficácia” da educação católica no país.

“Encorajo todos vós a continuar esta obra louvável”, pediu, para que “a formação da mente seja sempre acompanhada pela educação do coração”.

O Papa, que ofereceu a Rosa de Ouro à Virgem Maria, comparou a comunidade cristã local a uma “mesa libanesa”, cuja riqueza reside na diversidade de pratos partilhados.

“Vem-me à mente o perfume que brota das mesas libanesas, típicas pela variedade de alimentos que oferecem e pela forte dimensão comunitária de os partilhar”, afirmou, numa passagem muito aplaudida da sua intervenção.

Perante bispos, sacerdotes, consagrados e agentes pastorais, Leão XIV sustentou que “o perfume de Cristo” não é um produto de luxo reservado a poucos, mas “o aroma que emana de uma mesa generosa, onde se encontram muitos pratos diferentes e da qual todos juntos podem servir-se”.

O Papa mostrou-se emocionado perante os relatos apresentados, nomeadamente o do padre Youhanna-Fouad Fahed, que encontrou moedas sírias no ofertório da sua paróquia fronteiriça.

“É um detalhe importante: lembra-nos que, na caridade, cada um de nós tem algo a dar e a receber”, sublinhou Leão XIV, recordando as palavras de Bento XVI sobre a necessidade de “celebrar a vitória do amor sobre o ódio”.

O Papa dirigiu-se também ao padre Charbel Fayad, capelão prisional, confirmando que nos olhos dos detidos se vê “a ternura do Pai que nunca se cansa de perdoar” e o reflexo do rosto de Jesus.

Retomando as palavras de São João Paulo II, que definiu o Líbano como uma “responsabilidade pela esperança”, Leão XIV deixou um apelo específico em favor das novas gerações, num país marcado pela crise e pela emigração.

“É necessário também, no meio das ruínas de um mundo que tem os seus dolorosos fracassos, oferecer-lhes perspetivas concretas e viáveis de renascimento”, defendeu, pedindo que se dê espaço aos jovens nas estruturas eclesiais.

O patriarca da Cilícia dos Arménios Católicos, Raphaël Bedros XXI, foi o responsável pela intervenção de boas-vindas, descrevendo o Santuário de Harissa como “o ponto de apoio espiritual do Líbano”.

O responsável afirmou que, apesar das provações que abalaram o povo, a Igreja continua a ser “guardiã da esperança”, estendendo a mão aos pobres e acompanhando os jovens desorientados.

“Aqui, onde ressoam as línguas e as liturgias das Igrejas do Oriente e do Ocidente, a pluralidade das tradições transforma-se em riqueza”, sublinhou Raphaël Bedros XXI.

Antes de deixar o santuário, o Papa abençoou a primeira pedra da “Cidade da Paz” da televisão católica Tele Lumiére/Noursat.

A agenda desta segunda-feira, iniciada junto ao túmulo de São Charbel, inclui ainda encontros com a comunidade católica e com jovens, além de uma oração ecuménica e inter-religiosa na Praça dos Mártires.

O Líbano, país com mais de 2 milhões de católicos (cerca de 45% da população), já recebeu no passado as visitas de Paulo VI (1964), João Paulo II (1997) e Bento XVI (2012).

Esta visita apostólica sob o lema ‘Bem-aventurados os obreiros da paz’, visa encorajar a reconciliação num contexto regional complexo.

A primeira viagem internacional do pontificado teve como primeira etapa a Turquia, que o Papa visitou entre quinta-feira e domingo.

OC